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Foto do escritorAndré Luis Coutinho

A ERA DE OURO | Cinebiografia musical peca pelo fraco protagonista e pela autoria da família

Divulgação


É interessante perceber como as cinebiografias musicais estão cada vez mais recorrentes. Em poucos anos, tivemos títulos como Bohemian Rhapsody, Rocketman, Estados Unidos vs. Billie Holiday, I Wanna Dance with Somebody, Respect, Elvis, entre muitas outras. E é raríssimo encontrar alguma boa; por mais que algumas dessas citadas acima sejam realmente legais, é mais comum encontrar obras que usam do talento de seus biografados para conseguir apelo comercial e conquistar público por méritos de terceiros.


Porém, A Era de Ouro é um destaque, já que acompanha não um artista ou uma banda mas sim o executivo fundador da Casablanca Records, o malandro Neil Bogart. Para quem não sabe, a Casablanca foi responsável por popularizar nomes como a banda Kiss, o grupo Village People e, claro, Donna Summer. Era a oportunidade então de vermos uma cinebiografia musical que sairia um pouco da pasteurização burocrática dos inúmeros títulos que vemos recentemente, certo? Bem, sim, mas quem disse que Hollywood aproveita todas as oportunidades?!Dirigido por Timothy Scott Bogart, um dos filhos do biografado, percebemos assim que terminam os créditos finais que A Era de Ouro na verdade funciona como uma bela homenagem a Neil...


Ou pelo menos, deveria funcionar como tal. Já a execução alcança resultados diferentes. Afinal, comentei que percebemos a homenagem ao fim dos créditos, mas e durante o filme? Bom, acontece que Neil Bogart não era um dos melhores seres humanos, constantemente traindo sua esposa, se envolvendo em dívidas de jogo, assediando talentos (em diversos sentidos), etc. E o filme retrata isso até de forma “honesta”, julgo eu. Mas ainda assim, a visão final de Scott Bogart é a de que seu pai foi um gênio injustiçado que enxergava em tais artistas iniciantes os ícones que se tornariam no futuro. Não haveria problema em relatar esses dois lados do protagonista de forma equilibrada, mas equilíbrio definitivamente não é muito o forte desse filme. Há uma clara disparidade entre a importância que o longa dá aos méritos de Bogart e a consciência de suas falhas de caráter, culminando em um número musical auto-congratulatório que, por mais bem feito que seja, surge de forma cínica até demais nos 45 do segundo tempo.

   

E sim, o filme conta com alguns bons números musicais e atores que realmente entregam o gogó às músicas dos artistas que interpretam, e o destaque fica com a ótima Taylor Parks como Donna Summer, que rouba a cena todas as vezes que aparece soltando o vocal. É uma pena que a dedicação não foi a mesma com o casting da banda Kiss que, aqui, soa mais como uma paródia estereotipada do que como uma representação honesta da banda. E chega a ser quase imperdoável que o Village People seja citado apenas uma vez durante as quase 2 horas e 20 minutos de filme. Além disso, a presença de Jeremy Jordan como Bogart é quase nula, já que a única coisa que poderia fazer com que torcessemos para esse personagem seria um carisma malandro, o que o ator definitivamente não tem.

   A Era de Ouro é mais uma dentre tantas cinebiografias musicais sem graça dos últimos anos. É cínica demais mesmo na intenção de ser uma homenagem familiar, é auto-indulgente demais mesmo criticando aquele que ao mesmo tempo admira, e soa burocrática e comportada demais para retratar o show business dos anos 1970. Ou seja, mais um filme que parece ter sido produzido por uma inteligência artificial. Uma pena!

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