James Wan se consolidou como um dos grandes diretores do terror hollywoodiano contemporâneo desde que lançou o curta-metragem que daria origem ao seu primeiro longa, Jogos Mortais, que tornou-se a franquia de terror mais rentável do Cinema por algum tempo até ser superada... por uma outra franquia de James Wan, que eu gosto de chamar de “InvocaVerso”. Depois de consolidar o subgênero ultra-violento conhecido como “torture porn” no cinema mainstream, Wan decidiu se aventurar no sobrenatural com a franquia Sobrenatural (olha, quem diria!) e o excelente – e estranho – Maligno, mas foi com Invocação do Mal que se consolidou não apenas a importância do cineasta para o gênero como também a dimensão comercial desse seu “universo”.
E sim, os dois primeiros Invocação do Mal são ótimas abordagens de um terror à moda antiga que não buscam aquele experimentalismo comum aos filmes de Robert Eggers e Ari Aster. Porém, o que Wan provou ao longo dos anos é que, quando seu dedo não está comandando a produção no aspecto formal, as coisas não funcionam tão bem. Annabelle, A Maldição da Chorona e A Freiratiraram a prova real. E o que ocorre nesse segundo capítulo desta última “sub-franquia” não é muito diferente do que já ocorria no longa de 2018: uma completa falta de personalidade, talvez até maior.
Afinal, o primeiro ainda inseria momentos visuais razoavelmente impactantes através da direção de Corin Hardy (a cena dos corredores da masmorra é um ponto forte daquela obra), mas ainda assim parecia perfumaria. Aqui, no segundo, Michael Chaves vai na direção oposta, a de ser visualmente muito mais sem graça. E se o filme de Hardy ainda tentava evitar esse problema, o de Chaves mergulha em um poço de escuridão com a fotografia de Tristan Nyby, que parece ter vergonha do projeto em que está inserido. Afinal, são raros os momentos em que o diretor de fotografia permite que enxerguemos com clareza o que se desenrola na tela, em uma crençaaparentemente comum no terror comercial recente de que o escuro pelo escuro já é o suficiente para evocar temor, quando na verdade é justamente o contraste entre luzes e sombras, entre o que se esconde na penumbra e aquilo que está visível aos nossos olhos. Um pouco difícil exercitar isso se tudo está invisível ao público, certo?!
Além disso, a direção no geral soa desinteressada de criar qualquer atmosfera assombrosa, algo que Wan faz com louvor nos filmes que dirige. Tudo se resume a movimentos de câmera simples, enquadramentos burocráticos e jump scares telegrafados há um quilômetro de distância. “Olha só, uma estátua coberta por um lençol, quais as chances disso virar um recurso daqui a pouco?” E isso acontece por todo o filme, novamente sem o menor interesse de criar uma subversão de expectativa ou um clima de tensão, talvez com uma notável exceção... e quem assistir ao filme provavelmente vai saber que envolve inúmeros lances de escadas e uma certa criatura.
Não tem muito o que falar sobre A Freira 2 a não ser clamar pelo seu produtor James Wan assumir a direção desses longas do “InvocaVerso”. Ou ao menos seu amigo de longa data Leigh Whannell que alcança resultados parecidos e bem superiores a esses. Se continuarmos com Michael Chaves da vida, daremos o recorde de franquia de terror mais rentável do Cinema a um universo com potencial que acabou tornando-se pura mediocridade desinteressada e descartável.
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