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Foto do escritorN'alu Macedo

Argylle: um acerto de efeitos e referências clássicas, mas frustra na execução de clichês do gênero


O agente Argylle (Henry Cavill) se camufla em uma festa de mafiosos cheia de capangas pedindo uma bebida para o barman. Nos fundos do cômodo, a bela Lagrange (Dua Lipa) se levanta e o convida para uma dança. Na sequência, o espião se vê em uma emboscada e se inicia uma perseguição com troca de tiros digna de um filme da franquia “James Bond”. Acontece que isso de fato é uma cena do livro de romance de espionagem da escritora Elly Conway (Bryce Dallas Howard), que está passando pelo fenômeno mais temido entre roteiristas: o bloqueio criativo.


A partir desse momento, o espectador embarca no mais novo filme do diretor Matthew Vaughn, responsável por filmes como Kick-Ass e a franquia Kingsman. Além de contar com a experiência do diretor em filmes de ação com humor nonsense, a história é composta pelos atores Samuel L. Jackson, Sam Rockwell, John Cena e grande elenco. No quesito dramaturgia, todos os atores e não-atores, como o caso da cantora Dua Lipa, conseguem transitar bem entre os diálogos mais dramáticos e suas quebradas cômicas repentinas.

As coreografias das cenas de ação são um outro ponto positivo do longa, Vaughn tem uma incrível qualidade de trazer uma “crueza” de luta de bar para todas as sequências de ação. Mesmo que com os braços apoiados na cadeira do cinema, os planos fechados são capazes de fazer o público se imaginar ao lado dos heróis trocando socos com os inimigos. Não tem excessos de sangue e as sequências são combinadas a trilhas pop que dão ritmo aos mais criativos combates.


Em entrevistas, o diretor comentou sobre Argylle conter elementos de um “metafilme”, ou seja, um filme que se propõe a deixar explícito que se é uma obra de ficção. Logo, a ficção bebe de fontes do gênero de ação hollywoodiana e se utiliza dos mesmos clichês para contar sua história. No entanto, o longa se inicia narrativamente com momentos de quebra entre as fantasias do livro de Elly com a realidade em que ela vive, através do fantasma do espião Argylle em contraste ao agente real Aidan (Sam Rockwell), que é falho e não tem uma personalidade sedutora.


Uma proposta a princípio interessante, até que, da sua metade para o final, a narrativa abandona o uso das pistas direcionadas até o objetivo e uma sucessão de “plot twists” com elementos Deus Ex-Machina desviam muito a verossimilhança do restante da obra. Ao abandonar a linguagem do começo, passa a sensação de ter se escolhido um escape fácil para que a história se caminhe para o final feliz, além do surgimento de diálogos mais expositivos e trechos mais melodramáticos.

A trama possui bons momentos de ação e termina com uma impressão positiva, porém em um ritmo menos eletrizante. Quem conhece o trabalho de Vaughn sabe que seus filmes não são para ser levados a sério e as histórias são exageradas. Mas até bons clichês precisam ser trabalhados em cima de limites.


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