Há uma afirmação equivocada por parte do público médio brasileiro sobre a suposta “baixa qualidade” do nosso cinema, geralmente movida por falta de repertório ou até certa ignorância inconsciente. E no geral, se você pergunta para esse público a quais filmes brasileiros eles assistiram, as respostas muito provavelmente serão semelhantes a Barraco de Família. Isso ocorre porque há uma linha de produção praticamente fordista e pasteurizada que torna todas essas comédias muito parecidas e extremamente “confundíveis”.
O que torna Barraco de Família tão semelhante a filmes como Minha Mãe É uma Peça e Os Farofeiros, por exemplo, é essa linguagem televisiva de sitcom da Multishow que foi muito influenciada não só pelo sucesso da série Vai que Cola como também pelo êxito comercial das comédias da Globo Filmes, em especial as franquias Se Eu Fosse Você, De Pernas pro Ar e Até que a Sorte Nos Separe. A partir da aplicação dessa linguagem, todos esses filmes acabam ficando com cara de episódio-piloto de sitcom de TV aberta e não se justificam tanto como obras cinematográficas.
E por mais que a premissa desse novo filme de Maurício Eça seja interessante e atual, com a ascensão pop de uma cantora vinda da periferia de São Paulo e o fato dela renegar suas origens humildes, o longa parece não querer sair dos padrões pré-estabelecidos por essa linha de produção que existe desde os anos 2000 e, com isso, acaba até mesmo se contradizendo através da forma como retrata a periferia paulista da Zona Leste. Eça, a partir de seu olhar (creio eu) privilegiado, acaba retratando as classes baixas com estereótipos tão notáveis quanto aqueles vistos em telenovelas elitistas, e o “barraco” do título não é enxergado como algo que surge pela situação de rompimento daquela família mas sim como característica inerente dos suburbanos, o que é no mínimo problemático.Basta perceber como praticamente todos os membros da família falam berrando, ou pronunciam errado as palavras, ou demonstram um fascínio surreal pela elite até serem tratados mal pela mesma... E longe de mim cobrar REALISMO em uma comédia propositalmente escrachada, mas em um filme cuja mensagem central culmina em uma maior valorização de raízes humildes, esses “detalhes” não deixam de soar contra-producentes.
Dito isso, o elenco faz o que pode com seus tipos costumeiros e os destaques ficam para Cacau Protásio e Robson Nunes, ambos que funcionam tanto nos momentos engraçados ao tentarem conferir alguns diálogos mais sagazes quanto nos raros momentos em que a família é abordada com mais apego emocional, ali na reta final do projeto. E admito que até gostaria de um foco maior nos desencontros do triângulo amoroso formado por Lellê, Jeniffer Nascimento e Yuri Marçal, que geram alguns momentos divertidos porém isolados.
Acredito que o maior problema de Barraco de Família é não tentar sair da fórmula de comédias nacionais estabelecida há duas décadas – e a permanência nessa fórmula acaba limitando o potencial que o filme tinha como comédia social sobre relação de classes e o impacto do show business nesse contexto.
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