“Minha bunda é um gorila” sem dúvida é uma frase bem peculiar para o início de um filme. Mas, o diretor e roteirista Marão não poderia escolher uma melhor fala de entrada para o seu novo longa tão... Esquisito, no melhor sentido da palavra.
Bizarros Peixes das Fossas Abissais segue a narrativa de três amigos bem inusitados: uma mulher (Natália Lage) possuidora de uma habilidade capaz de transformar qualquer parte do seu corpo em um animal, uma tartaruga (Rodrigo Santoro) com Transtorno Obsessivo Compulsivo e uma nuvem (Guilherme Briggs) que sofre de incontinência pluviométrica. Juntos, o grupo segue em busca das peças faltantes para decifrar o mapa de um vaso misterioso.
Um dos pontos fortes da animação sem dúvidas é o elenco muito experiente, que dá voz aos heróis dessa fantasia bizarra com um mundo sem limites. O conflito principal é simples e os diálogos se iniciam básicos, pouco se sabe sobre a mulher e sua personalidade segue o padrão de muitos protagonistas distantes e calados. No entanto, seus coadjuvantes adicionam humor à narrativa com seus diálogos e trejeitos engraçados, fazendo do trio um grupo capaz de sustentar os 75 minutos de filme com a leveza que a história propõe.
É uma produção de muitos estímulos visuais, Marão se utiliza do traço como linguagem para contar uma história absurda que limita ao mesmo tempo que excede as expectativas. Em uma hora, transita pela Baixada movimentada do Rio de Janeiro e na outra está mergulhando na calmaria das fossas abissais do oceano. Essa originalidade entretém todos os públicos e, para o espectador mais velho, adiciona-se uma moral valiosa sobre a relação humana com a vida e o tempo.
Quando se fala de animação no Brasil, é impossível não pensar na palavra “resiliência”. Bizarros Peixes das Fossas Abissais é um exemplo de possibilidade de criação autoral em meio à falta de incentivo. Em seu novo filme, Marão abre caminhos para seus personagens e futuras animações nacionais.
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