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Foto do escritorJoão P. Atallah

Culpa e Desejo: drama erótico explora a relação conturbada entre uma mulher e o filho de seu marido


Catherine Breillat tem sua carreira cinematográfica fortemente caracterizada pela retratação de grandes tabus sociais, não aqueles que atinjam algum fator político ou religioso, mas sim aqueles que tocam em questões sexuais muitas vezes reprimidas por uma sociedade conservadora, demonstrando-as na frustação sexual de uma jovem comprometida em Romance X, ou nos impasses sobre virgindade de duas irmãs problemáticas em Para Minha Irmã. Partindo dessa autoria narrativa, Culpa e Desejo explora as complexidades emocionais de Anne (Léa Drucker), uma advogada especializada em casos de abuso infantil, enquanto se envolve sexualmente com o jovem filho de seu marido Pierre (Olivier Rabourdin), o adolescente problemático Théo (Samuel Kircher).


A partir de tudo que o filme propõe, essa relação psicologicamente substancial e o desenrolar passional dessa situação, Breillat busca trabalhar essa ideia em uma forma de narrativa subversiva, como se estivesse ironizando uma idealização sexual da juventude, um retrato visceral do complexo de édipo. A inimizade de Théo e seu pai vai de encontro com a tentativa de escape de Anne do tradicionalismo que cerca sua rotina, como se a persona revoltada do garoto ascendesse uma pequena chama que garante a ela uma sensação de juventude breve. Inicialmente, a diretora direciona o foco do olhar no prazer de Théo, até o ponto de sua primeira relação sexual com sua madrasta, como um típico olhar da idealização da juventude masculina, onde o sexo se torna uma conquista particular, só para depois a subversão de Breillat vim à tona e transitar o domínio do olhar para Anne, e assim, igualando a culpa para os dois lados.


Esse mundo dentro da tela é intencionalmente manipulado para se ausentar de uma culpabilidade, tornando o espectador um juiz, e ao mesmo tempo um cúmplice do caso. Breillat, de forma inicial, não está interessada em apontar para o lado errado da relação, mas sim desenvolver essa psique sexual que rodeia tanto a fragilidade emocional e a imaturidade juvenil de Théo quanto a frustação sexual impulsiva de Anne. Impulsividade essa que gera um grande conflito moral interno na advogada, por ir de encontro a sua faceta de defensora dos menores contra os abusos sexuais alheios, uma face que é violentamente mantida, mas não com aquela violência corporal, mas sim uma violência emocional e moral que é revelada quando Anne se desespera para manter sua vida, algo que certamente faz toda a manipulação de Breillat cair por terra, explicitando de forma evidente o certo e o errado nessa história.


Catherine Breillat inicia de forma provocativa, ao impor elementos de um melodrama clássico em um cenário tão conturbado, enquanto aos poucos constrói uma manipulação evidente da imagem para conter um julgamento prévio de quem o assiste. Tudo isso para essa manipulação se desconstruir ao longo da história contada. Breillat é polêmica, é socialmente visceral, é incomodo, e com isso ela nos mostra uma máscara quebrada da sociedade, fazendo isso sempre de forma íntima.

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