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  • Foto do escritorAndré Luis Coutinho

Five Nights at Freddy’s: O Pesadelo Sem Fim | Virou moda ter vergonha de assumir o terror?


ente hiperracionalizam suas narrativas e deixam de lado o que mais sustentou o terror como um dos gêneros mais interessantes da Sétima Arte: a resposta instintiva do público a sua abordagem frontal. Filmes como os mais recentes Men, Speak No Evil ou Morte Morte Morte buscam se sustentar mais em discursos sociais vazios (o típico “textão de Facebook”) do que em exercitar o gênero ao qual pertencem. Afinal, usam de seus códigos buscando gerar desconforto, estranheza ou medo, mas justamente por essa hiperracionalização (que muitas vezes não passa de auto-indulgência ou pseudo-intelectualidade), acabam fracassando amargamente.


E para minha surpresa, esse é um dos motivos que fazem de Five Nights at Freddy’s um péssimo filme. Afinal, pelos pôsteres, pela premissa absurda e até mesmo pela sequência inicial, o novo filme da diretora Emma Tammi tinha tudo para assumir seu terror de forma frontal, sem qualquer vergonha. Mas quando entramos no arco dramático focal, protagonizado por Josh Hutcherson, enxergamos como a diretora – e mais especialmente a produção – busca o tempo todo evitar o medo, o desconforto e até mesmo a violência, por mais que o filme insista em deixar bem claro que ela está SIM ocorrendo. Também pudera... Baseado em uma franquia de jogos mobile que fez muito sucesso na década passada entre pré-adolescentes (e eu estava vivendo essa época como um deles), a obra de Tammi parece esconder esse terror mais frontal justamente por motivos comerciais, abaixando assim a classificação indicativa e permitindo que o público-alvo desses jogos (que lançam até hoje) possa aproveitar a adaptação cinematográfica.


Ok, isso é um problema, mas onde está o tal “terror elevado” e hiperracionalizado que eu citei antes? E é aí que entramos em um problema que, ao mesmo tempo que reafirma essa fuga da frontalidade do gênero, também soa contra-producente com a proposta comercial de fazer um terror infanto-juvenil: toda a história traumática e realmente pesada do protagonista, que é martelada incessantemente ao longo dos 110 minutos de projeção. Sofrendo pelo sequestro insolucionado de seu irmão mais novo, o Mike vivido por Hutcherson surge como um protagonista atormentado e solitário, que faz todo o possível dentro de suas limitações financeiras e psicológicas para cuidar de sua irmã caçula. E de novo, nenhuma ideia a priori é ruim; Five Nights at Freddy’s poderia funcionar como um horror infanto-juvenil e poderia também funcionar como um filme sobre traumas passados e explorar o drama de seu personagem central. Porém, todo filme precisa de uma unidade para gerar certa ideia, e não é isso que este aqui faz.


Isso fica ainda mais escancarado quando Tammi passa a explorar com mais foco os tais animatronics que ocupam a pizzaria abandonada do Freddy. E para não dizer que reprovei 100% do filme, admito que todo o estabelecimento funciona como um bom cenário de incertezas, assim como os robôs em forma de animais geram a estranheza apropriada apenas pelo seu visual – que segue a lógica aterrorizante do palhaço, que mistura ingenuidade e malícia. Mas, por outro lado, é deveras frustrante a forma como essa ambientação é mal-utilizada pelo longa e, especialmente, como o confronto final com o vilão principal (do qual não falarei muito para não dar spoilers) é desenvolvido e também resolvido.


No geral, eu não diria que Five Nights at Freddy’s entraria na categoria do “terror elevado” já que não busca nenhum discurso social relevante para mascarar sua falta de ideias com o exercício de gênero, mas ao mesmo tempo possui o mesmíssimo demérito de hiperracionalizar sua trama com contextos sombrios demais ao mesmo tempo que busca mascarar seus atributos mais incômodos ou chocantes visando maior lucro de uma parcela de seu público-alvo. Ou seja, é um filme naturalmente contraditório que jamais decide o que quer ser; e esse definitivamente é o pior erro que uma obra de arte pode cometer!

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