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Foto do escritorAndré Luis Coutinho

LOUCAS EM APUROS | narrativa besteirol cria um equilíbrio divertido entre o novo e o “antigo”

 

É uma crença muito comum – e de extremo equívoco –pensar que um filme de comédia escrachado é menor do que aquelas comédias mais satíricas e supostamente cerebrais. Por muito tempo, foi muito óbvio para o público médio que um filme como American Pie era inerentemente inferior a uma dramédia como Os Excêntricos Tenenbaums. E até hoje esse pensamento raso é muito comum, porque muita gente acaba acreditando que a "boa arte" sempre será aquela mais próxima da realidade ou de uma noção construída de realismo.

   

Pois bem, o elemento que mais me conquistou nesse Loucas em Apuros, filme estreante de Adele Lim na direção, é essa falta de vergonha em se assumir como mais um besteirol americano, mesmo sendo protagonizado por um grupo de quatro mulheres sino-americanas em 2023. Afinal, esse é um subgênero da comédia que foi um pouco esquecido nos últimos anos, até mesmo pelos seus últimos grandes expoentes. Aparentemente, estamos presenciando um tímido resgate desses filmes depois de Bons Meninos e Fora de Série, ambos de 2019, e o recém-lançado Que Horas Eu Te Pego?, alguns deles com uma visão mais feminina do que masculina, que era o padrão no passado.

   

E se o filme poderia cair na armadilha de fazer uma modernização menos escrachada que puxasse o foco para as críticas sociais mais comuns do cinema hollywoodiano atual (no caso, o racismo, a xenofobia e, obviamente, o machismo), não o faz e consegue se salvar desse moralismo burocrático. Não me entenda mal, as críticas estão aqui e são muitas, mas a direção de Lim (que também é roteirista e produtora) e a produção de Seth Rogen foram essenciais para que essa consciência social moderna se unisse de forma orgânica e uniforme ao humor escrachado muito praticado por esse último. Afinal de contas, não é porque as protagonistas agora são mulheres e asiáticas que o humor precisa esconder aquele apelo sexual e escatológico acentuado de American Pie, EuroTrip e Superbad.

   

Além de Lim e Rogen, outro trunfo inegável do longa –e aqui talvez seja o verdadeiro destaque da produção – é o quarteto central. Todas as atrizes estão SENSACIONAIS aqui, cada uma com suas características bem marcadas e que funcionam tanto isoladamente quanto em conjunto. Nesse caso, Stephanie Hsu e a novata Sabrina Wu ironicamente são as mais engraçadas, já que representam polos antagônicos desse grupo – especialmente no que diz respeito à libido. A relação central entre as personagens de Ashley Park e Sherry Cola, por outro lado, funciona como veia dramática central da história, mas também não rouba a atenção já que, como dito anteriormente, tudo é muito bem casado. Só tenho ressalvas àquele momento que conta com a participação do saudoso Daniel Dae Kim (eu, como bom fã de Lost, não pude deixar de esbanjar um sorriso). Sinto que o trecho exige uma emoção que, por todo o exagero do resto do filme, não foi alcançada. É uma mudança de tom necessária, mas que acredito ter sido um pouco mal posicionada.


Contando ainda com uma abordagem visual mais moderna e muitas vezes digna de um vídeo do TikTok, especialmente na edição mais frenética e nos neons saturados, Loucas em Apuros é mais um divertido resgate desse humor escrachado que atualmente é visto como antiquado mas vez ou outra é traduzido em uma abordagem mais moderna, tanto temática quanto tecnicamente. Espero que o besteirol esteja garantido no futuro de Adele Lim!

 

O filme chega aos cinemas brasileiros em 3 de agosto, com sessões antecipadas a partir de 20 de julho.

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