O popularmente chamado “folk horror” vem ganhando um espaço considerável entre os filmes de terror lançados nos últimos anos, juntamente com um ideal criativo que culmina em uma falta de frontalidade que de certa forma se origina de certas noções criadas pelos grandes estúdios, como essa última ideia do “pós-terror”, idealizada como uma justificativa de uma suposta superioridade narrativa e visual, uma ideia que de certa forma desqualifica o gênero como um todo.
Com isso, o método criativo que podemos caracterizar dentro desse esquema como sendo uma forma clássica e frontal de fazer terror, com o uso de violência gráfica, jump scares e tramas sobrenaturais acerca de temas simples e sem muita complexidade narrativa, que atua diretamente ao seu espectador, cai juntamente nesse ideal industrial que vem tomando conta do gênero nos últimos tempos. Uma grande ausência de autoria e características próprias, sendo possível apontar pequenas exceções nas obras de diretores como Jordan Peele, Robert Eggers e até mesmo Mike Flanagan, autores que se utilizam de elementos clássicos para contar suas histórias, sendo esse tipo de exceção não sendo imposta a Bishal Dutta em seu novo longa Não Abra!.
O longa se espelha muito em seu diretor, retratando uma história sobre indivíduos que, assim como Dutta, são emigrantes da Índia, se utilizando do folclore indiano como o ponto chave da narrativa, incorporando toda uma questão cultural acerca de reconexões com sua ancestralidade, que infelizmente resulta em um simples elemento para exaltar um discurso de preservação cultural que se mostra vazia durante todo o filme. A partir disso, o diretor pareceu tentar reforçar esse discurso sobre etnia, cultura e ancestralidade, que se encontra apenas nos diálogos cansativos e sem peso entre Samidha (Megan Suri) e seus pais Poorna (Neeru Bajwa) e Inesh (Vik Sahay), os personagens de ascendência hindi, não atuando em nenhum outro aspecto do filme.
Até mesmo sua estética não foge de um padrão hollywoodiano, porém, como disse acima, todas essas referências clássicas do terror estadunidense não funcionam aqui, apesar do diretor apelar muito para esses recursos e ignorar o principal meio artístico que daria um significado maior a sua própria cultura em representatividade no longa, o jeito indiano de se fazer cinema, me parece que até mesmo em uma questão visual e estética ele pecou em retratar a cultura hindi.
Partindo desses pontos, posso dizer que apesar de Não Abra! tentar buscar uma representação sobre herança e cultura, nada mais é do que outro produto estereotipado de Hollywood entre muitos outros, uma tentativa de explorar uma cultura alheia por olhos que supostamente não a enxergam, e se utilizar disso como um pretexto para apenas vender um longa sem nenhum tipo de ideia verdadeira a apresentar.
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