Uma diferença entre dois tipos de filmes ruins precisa ser estabelecida a ponto de sintetizar o texto que virá a seguir. Existem os autorais, já que ser autoral não é sinônimo de qualidade. Um exemplo disso é Tenet, filme de Christopher Nolan que apresenta muitos dos traços autorais do cineasta mas que não funciona para o que pretendia oferecer. E há aqueles filmes que não são apenas ruins, mas sim desinteressados em oferecer qualquer tipo de personalidade, que se contentam com o mínimo possível de criatividade narrativa.
Infelizmente, O Convento é um grande exemplo desse segundo tipo. Comandado por Christopher Smith, diretor claramente competente que foi responsável pelo subvalorizado Triângulo do Medo, o filme segue a cética Grace que, informada sobre a morte do seu irmão mais novo, viaja até um convento escocês para descobrir as circunstâncias misteriosas e brutais que envolvem sua morte. E é claro que, no caminho, ela bate de frente com padres e freiras que desafiam suas crenças (ou a falta delas). E nesse decorrer, Smith é capaz de oferecer momentos raros com composições visuais realmente interessantes como aquele que mostra a protagonista atravessando uma colina até as ruínas de uma antiga igreja, ou até mesmo aquele que serve como pôster do longa. Há uma vontade subjacente de querer ir mais além na abordagem visual que aparentemente é sufocada ou por certo comodismo ou pela influência dos estúdios.
Uma pena, já que, com exceção desses pequenos momentos, toda a fotografia de Rob Hart é coberta por um filtro escuro que não serve sequer à atmosfera claustrofóbica do longa, muitas vezes inibindo a compreensão clara dos eventos que discorrem em tela, como se quisesse esconder algum efeito digital mal-otimizado. Além disso, o foco da produção não parece ser o de construir essa atmosfera nem propor um contraste verdadeiramente interessante entre Grace (vivida por uma Jena Malone também desinteressada) e os representantes do tal convento, resumindo-se em diálogos burocráticos que sustentam um suspense que só existe no papel para, no fim, vender o plot twist como algo verdadeiramente impactante e que transformaria o longa em algo surpreendente. Não é bem isso que acontece, já que toda a revelação final, mesmo que acompanhada por flashbacks intermináveis (como se fosse difícil de ser compreendida), soa previsível e vazia de um real significado maior, botando em evidência a real intenção do filme: reforçar o apreço do público pelos plot twists ao invés de tentar realmente contar alguma coisa em seus 90 minutos de duração.
Acaba que não resta muito o que dizer sobre O Convento. É um filme tão pouco marcante que, depois de alguns dias, se torna um borrão misturado a outros filmes de terror parecidos que não vingaram pelo mesmo desinteresse artístico de seus respectivos estúdios.
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