É interessante como O Mal que Nos Habita, novo terror argentino do diretor Demián Rugna, escolhe um caminho curioso para tratar da já batida temática da possessão demoníaca. Não que sua abordagem aqui seja inovadora ou 100% original - estamos em um ponto em que isso é amplamente improvável. Ainda assim, o padrão do cinema norte-americano perante esse subgênero do horror costuma ir na direção oposta ao gore de filmes como Terrifier ou Jogos Mortais.
Aqui, em compensação, Rugna constrói um terror sobrenatural tão ou até mais brutal que as franquias supracitadas, transformando seu longa praticamente em um body horror grotesco e nauseante que oferece momentos completamente imprevisíveis em sua abordagem frontal ao absurdo da ameaça enfrentada pelos dois irmãos protagonistas do filme. Uma ameaça que - vale apontar - pode ser encarada como equivalente a uma praga agrícola dado o contexto espacial, ou até a uma espécie de COVID-19 com consciência. Nesse sentido, é até um ponto de grande destaque a habilidade com que o diretor transita entre os diversos catalisadores do terror aqui, desde a já citada violência gráfica, passando pela paranoia e culminando no total desespero do mal que jamais descansa e que, muito provavelmente, jamais será derrotado. Rugna trabalha com o terror mais instintivo, da repulsa ao visual, até o mais completo horror psicológico da derrota da Humanidade de modo geral, numa progressão cada vez mais aterradora da ameaça central.
Mas devo admitir que, para além dessa fluidez de abordagens dentro do terror como gênero, não creio ser um grande filme. Acredito que não há muita ideia a ser transmitida a partir dessa fluidez. É mais um retrato trágico de uma comunidade abandonada que se vê afetada por esse perigo tratado quase de forma folclórica aqui (olha o folk horror aí também). No geral, O Mal que Nos Habita é interessante ao longo de sua duração justamente por essa dinâmica entre as abordagens formais e os subgêneros que explora dentro do terror. Mas, além disso, não tem muito a dizer e acaba ficando aos rodeios.
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