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Foto do escritorJoão P. Atallah

SOM DA LIBERDADE | Longa polêmico que aborda o tráfico infantil tem êxito em passar sua mensagem.


Não vou tocar de forma profunda nos assuntos polêmicos da produção do filme, nem nas

acusações pesadas envolvendo o personagem principal, vou falar inteiramente sobre o filme

nesse texto, ainda mais quando ele se trata de algo tão sensível e importante. Dirigido por

Alejandro Gómez Monteverde, O Som da Liberdade conta a história do ex agente da CIA Tim

Ballard (Jim Caviezel) e sua jornada na Colômbia em busca de desligar um enorme sistema de

tráfico sexual infantil após se questionar sobre seu trabalho perseguindo pedófilos em solo

americano, retratando toda essa trajetória com uma ótica messiânica, atribuindo um tom

religiosos a toda a trama retratada.


Por ser baseado em uma história real, ainda mais tendo o objetivo de exaltar a imagem de

alguém, o longa se preocupa muito em atribuir uma característica divina a tudo o que

acontece na jornada do protagonista, com uma alta exposição da frase que se popularizou por

Ballard “God’s Children Are Not For Sale” (As crias de Deus não estão à venda), unindo essa

ótica messiânica a um heroísmo norte americano ao colocar o protagonista naquela posição

clássica do salvador branco e americano. Aquela figura supostamente libertadora e

benevolente, invocando essa ideia de que os povos dos países do terceiro mundo, nesse caso e

em muitas vezes nos países latino americanos, são incapazes de se defender por si mesmos,

sendo propensos a receber a tal benevolência do homem branco salvador. O longa torna isso o

centro do desenvolvimento narrativo, tanto da trama quanto do protagonista, tanto que chega

até deixar a discussão complexa acerca do tráfico e abuso de menores um pouco de lado em

prol de criar suas bases nesse arquétipo narrativo, e como disse antes, exaltar a imagem de

Tim Ballard.


Indo além do discurso contra o tráfico sexual, o filme não se esforça para criar algo de especial

ao longo da narrativa, sendo cem por cento da trama baseada em expor esse sistema de

crueldade mundial, que inclusive não é atribuído nenhum tipo de viés político específico, toda

a rede de pedofilia é apresentada inteiramente apenas como uma organização criminosa,

apesar de alguns apontamentos sutis acerca disso. Com isso, as bases do longa parecem

completamente em discursar acerca de um fato socia relevante, trazendo à tona uma velha

discussão dentro do antro da arte, do conteúdo e a forma. De um lado, O Som da Liberdade,

busca sim, e de forma até emocionante, nos tocar com essas histórias de infâncias sendo

destruídas, afinal de contas estamos falando de crianças sendo sequestradas e submetidas a

abusos físicos e psicológicos, não há como não nos aliviar quando alguém as salva desse

cenário e derrota o abusador, o típico herói salvando os necessitados, que nesse caso em

específico, funciona. Porém, Gómez Monteverde não parece preocupado em estabelecer uma

ótica original e autoral, apenas se utilizando do básico para contar essa história de forma

simplista, porém extremamente emotiva.


Apesar dos dispositivos narrativos duvidosos e as polemicas envolvendo a produção do longa,

O Som da Liberdade, de forma legítima, consegue tocar de forma emocional aqueles que o

assistem. A mensagem final após os créditos de Jim Caviezel, falando sobre a importância do

longa e do movimento que visa doar ingressos para que todos possam assisti-lo é até que

tocante, tornando o filme um destaque do ano que vale a pena ser visto.

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