Não vou tocar de forma profunda nos assuntos polêmicos da produção do filme, nem nas
acusações pesadas envolvendo o personagem principal, vou falar inteiramente sobre o filme
nesse texto, ainda mais quando ele se trata de algo tão sensível e importante. Dirigido por
Alejandro Gómez Monteverde, O Som da Liberdade conta a história do ex agente da CIA Tim
Ballard (Jim Caviezel) e sua jornada na Colômbia em busca de desligar um enorme sistema de
tráfico sexual infantil após se questionar sobre seu trabalho perseguindo pedófilos em solo
americano, retratando toda essa trajetória com uma ótica messiânica, atribuindo um tom
religiosos a toda a trama retratada.
Por ser baseado em uma história real, ainda mais tendo o objetivo de exaltar a imagem de
alguém, o longa se preocupa muito em atribuir uma característica divina a tudo o que
acontece na jornada do protagonista, com uma alta exposição da frase que se popularizou por
Ballard “God’s Children Are Not For Sale” (As crias de Deus não estão à venda), unindo essa
ótica messiânica a um heroísmo norte americano ao colocar o protagonista naquela posição
clássica do salvador branco e americano. Aquela figura supostamente libertadora e
benevolente, invocando essa ideia de que os povos dos países do terceiro mundo, nesse caso e
em muitas vezes nos países latino americanos, são incapazes de se defender por si mesmos,
sendo propensos a receber a tal benevolência do homem branco salvador. O longa torna isso o
centro do desenvolvimento narrativo, tanto da trama quanto do protagonista, tanto que chega
até deixar a discussão complexa acerca do tráfico e abuso de menores um pouco de lado em
prol de criar suas bases nesse arquétipo narrativo, e como disse antes, exaltar a imagem de
Tim Ballard.
Indo além do discurso contra o tráfico sexual, o filme não se esforça para criar algo de especial
ao longo da narrativa, sendo cem por cento da trama baseada em expor esse sistema de
crueldade mundial, que inclusive não é atribuído nenhum tipo de viés político específico, toda
a rede de pedofilia é apresentada inteiramente apenas como uma organização criminosa,
apesar de alguns apontamentos sutis acerca disso. Com isso, as bases do longa parecem
completamente em discursar acerca de um fato socia relevante, trazendo à tona uma velha
discussão dentro do antro da arte, do conteúdo e a forma. De um lado, O Som da Liberdade,
busca sim, e de forma até emocionante, nos tocar com essas histórias de infâncias sendo
destruídas, afinal de contas estamos falando de crianças sendo sequestradas e submetidas a
abusos físicos e psicológicos, não há como não nos aliviar quando alguém as salva desse
cenário e derrota o abusador, o típico herói salvando os necessitados, que nesse caso em
específico, funciona. Porém, Gómez Monteverde não parece preocupado em estabelecer uma
ótica original e autoral, apenas se utilizando do básico para contar essa história de forma
simplista, porém extremamente emotiva.
Apesar dos dispositivos narrativos duvidosos e as polemicas envolvendo a produção do longa,
O Som da Liberdade, de forma legítima, consegue tocar de forma emocional aqueles que o
assistem. A mensagem final após os créditos de Jim Caviezel, falando sobre a importância do
longa e do movimento que visa doar ingressos para que todos possam assisti-lo é até que
tocante, tornando o filme um destaque do ano que vale a pena ser visto.
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