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Ai ai, Nolan! Quem me conhece sabe que Christopher Nolan até seu "A Origem" era um dos meus diretores favoritos daquela onda que surgiu nos anos 1990 (da qual Darren Aronofsky e Wes Anderson também fazem parte). Porém, depois de fazer sucesso com o pretenso realismo de sua Trilogia Batman, o diretor pareceu ter caído em um tecnicismo chato, no qual o foco de suas obras era transferido para o quão realista eram seus filmes... e como ele só usava efeitos práticos... e como seu conteúdo era cientificamente correto... Daí, filmes como Interestelar, Dunkirk e Tenet foram um balde de água fria para alguém que ainda acreditava no potencial artístico de Nolan.
Felizmente, Oppenheimer é uma melhora considerável e, por mais que eu ainda tenha minhas ressalvas com o filme, não posso negar que esse é seu trabalho mais consistente em mais de uma década. Afinal, adaptando dessa vez um material literário já conhecido e aclamado de Kai Bird e Martin J. Sherwin (que ainda por cima trata sobre uma figura historicamente conhecida e relevante), Nolan contou com certas amarras para aqueles que tinham se tornado experimentalismos baratos na estruturação temporal de seus filmes – e Dunkirk é o maior exemplo disso. Aqui, essas subversões temporais ainda existem, até mesmo com o uso do contraste entre imagens em P&B e a cores, mas estão no filme por um motivo, reforçando o caráter conspiratório da hora final do longa.
Essa hora final, a propósito, é o melhor ponto de Oppenheimer, lidando com as consequências da bomba atômica criada pelo personagem-título de forma assertivamente paranoica e grave, em escala global. E é nesse momento que a performance de Robert Downey Jr. se mostra uma de suas melhores e uma fuga daquele comodismo de seu Tony Stark. Não é só a maquiagem de envelhecimento que faz o trabalho pelo ator; o próprio constrói muito bem toda a hipocrisia e narcisismo que movem o Almirante Strauss, mesmo que seu personagem sirva mais para eximir um pouco a culpa daquele conhecido como "o Prometeu humano" ou "Morte, o destruidor de mundos". Cillian Murphy, por sinal, encaixa muito bem nesse personagem em eterno conflito e seu misto de temor e empolgação ao presenciar o teste de sua "obra de arte" chega a ser fascinante de fato.
Uma pena que Nolan aborda J. Robert Oppenheimer como um homem com constantes devaneios que, por boa parte da longa duração, soam também como um experimentalismo barato para tornar a edição ainda mais bagunçada (como se não bastassem as sequências extremamente aceleradas que retratam a juventude e ascensão do físico). Porém, nem tudo é oito ou oitenta, já que em outros momentos, esse recurso é muito bem utilizado, em especial naquele em que Oppenheimer se apresenta diante de uma plateia eufórica. Ali, Nolan compõe possivelmente um dos melhores momentos de sua carreira ao expor o medo do cientista de forma a construir praticamente um pequeno filme de terror surrealista dentro de uma mente culpada. E foi nesse momento que enxerguei um parcial retorno do Nolan artista que tinha se perdido um pouco depois da sequência final brilhante de A Origem.
Mesmo com exageros momentâneos e uma pretensão que jamais cessa, mesmo quando não correspondida, Oppenheimer é prova de que Chris Nolan pode voltar a aliar seu tecnicismo a uma ambição artística muito maior do que aquela que o movia nos últimos anos. É um bom épico histórico imersivo e na escala megalomaníaca certa para retratar essa figura quase mitológica da nossa contemporaneidade, o criador de um monstro moderno e catalisador da auto-destruição da Humanidade. Realmente... Talvez só Nolan conseguiria dar a dimensão necessária para esse filme!
O filme já está em cartaz nos principais cinemas do país!
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