Admito que irei ter uma pequena dificuldade e um grande cuidado ao escrever essa crítica, não por não ter gostado do filme ou por não ter me identificado com a história contada, mas sim por uma falta de lugar de fala no que se diz a questões emocionais que envolvem a feminilidade e sobre o que é ser mulher em meio a nossa sociedade atual. Não quero tentar criar uma ótica própria de algo que não sinto na pele.
Partindo disso, posso dizer que a vida contém um imenso e complexo turbilhão de emoções quando se trata de nossas relações extra pessoais. Quando se é mulher nos tempos atuais, os sentimentos mais profundos e conflitantes entram em jogo nessa constante maré em que as encontram no mundo moderno, ainda mais quando a ideia de maternidade floresce. É essa ideia que a diretora francesa Rebecca Zlotowski escolheu por dramatizar em seu último longa, Os Filhos dos Outros, dando vida a história de Rachel (Virginie Efira), uma mulher de 40 anos que se encontra em um dilema sobre si própria ao se questionar se ainda possui capacidades físicas e mentais para gerar uma criança, e suas experiências maternas em relações a outras pessoas em sua vida, dando um toque sutil sobre o que é ser mãe atualmente.
Em nenhum momento a diretora busca melodramatizar a personagem principal, ao invés disso, nos constrói um pequeno fascínio por ela, exalto toda a vida que a cerca, Rachel ama seu trabalho, seus amigos, até mesmo seu ex-namorado, fazendo com que o espectador se afeiçoe a ela da forma mais leve e sutil possível. Nesse caminho, o longa não se preocupa em gerar aquelas sensações fortes típicos do melodrama clássico, pois essa não é a intenção primordial de Zlotowski, mais sim construir uma reflexão para o que Rachel sente em meio a cenários de supostas falsas maternidades que a protagonista está envolvida, tanto em sua relação com a filha de seu namorado, sua tutoria com seu aluno problemático, e até seu envolvimento na gravidez de sua irmã. Todos esses pontos constroem a persona de Rachel perante a idealização da sua maternidade, em nenhum momento exagerando esses elementos, sempre os seguindo com uma sutileza doce e envolvente.
A ótima atuação de Virginie Efira exerce um papel importantíssimo na mise-en-scène de Zlotowski. Toda essa pequena jornada pessoal em busca de uma provável felicidade não é retratada em nenhum momento de forma melancólica, mesmo quando Rachel tenta de todas as formas participar da vida de Leila, a filha de seu namorado Ali (Roschdy Zem), e falha em sua maioria, o longa não dá ênfases negativas a esses fatos, tratando-os apenas como pequenas vivências, acontecimentos humanos que apenas a crescem como pessoa. Muito ao contrário disso, um otimismo constante é adicionado ao desenrolar de todos os episódios importantes da vida da protagonista, indo de encontro com a proposta sutil da diretora.
Os Filhos dos Outros se revela como um pequeno estudo de personagem, se utilizando das fortes emoções maternas que acompanham muitas mulheres no mundo a todo minuto que se passa, uma reflexão profunda sobre a vida e o tempo do ser humano, um filme que vale muito a pena ser visto.
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