Paul fez um show estrondoso de 2h30. A apresentação aconteceu no último sábado (19), no Estádio Aderbal Ramos da Silva, o Ressacada
Crédito: Marcos Hermes
Os shows de Paul McCartney são sempre um evento inesquecível na vida de quem os presencia. É uma apresentação que invoca qualidade impecável de rock, performance e carisma, além de nostalgia e muitas surpresas. A espera de mais de uma década dos catarinenses por Sir Paul McCartney valeu a pena!
E se engana quem pensa que o envelhecimento roubou a energia do astro do rock: Paul surgiu cheio de presença e vitalidade para uma noite inesquecível no Estádio Ressacada. Depois da exibição no telão de imagens da sua trajetória (82 anos em 1 hora!), Paul entrou no palco e iniciou a noite com a clássica “Can’t Buy Me Love”, sendo ovacionado intensamente pelo seu saudoso público, composto por 30 mil pessoas de diversas gerações, provando que sua influência resistiu à passagem do tempo.
Não foi apenas a carreira musical consistente e diversificada de Paul (com clássicos solo, dos Beatles e dos Wings, seus conjuntos musicais) que manteve o público entretido: a tradição de arriscar falar em português, as brincadeirinhas e expressões de amor, respondendo aos gritos de “eu te amo!” da plateia, deram um tom intimista pro show, aproximando o ídolo de seus fãs.
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Em “Junior’s Farm”, da banda Wings, Paul provou que seus vocais seguem habilidosos e com um fôlego de milhões, para sua idade já avançada. A performance vocal foi melhor do que na sua última vinda para o país.
Foi depois dessa que Paul engatou na primeira tentativa com o português: “E aí, manezinhos? Boa noite, Floripa!”. Um destaque durante “Letting Go”, da banda Wings, foi o conjunto de sopros que surgiu nas escadas do setor da cadeira inferior, que fizeram sua performance no meio do público! Ao fim dessa canção, o público seguiu cantando e Paul e sua banda fizeram uma jam para acompanhar! E falando na banda, todos os músicos impressionaram pela sinergia com o Paul e o público, entregando habilidade e talento.
Em “Got to Get You Into My Life”, música dos Beatles, o telão começa a exibir imagens da banda, o que se prolonga ao longo das canções dos “quatro fantásticos” e provoca emoções fortes no público, ao reverem-nos “de pertinho”.
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“Let Me Roll It” proporcionou alguns dos solos de guitarra mais inesquecíveis da trajetória musical de Paul, e a química com sua banda tornou-se ainda mais evidente. A música se encerra com um medley de “Foxy Lady“ em homenagem a Jimi Hendrix e se consagra como uma das melhores da noite!
O momento mais romântico é quando Paul dedica “My Valentine” a sua esposa Nancy - ou “gata”, como ele a chamou! - que estava na plateia. É o primeiro momento de Paul no piano e no telão temos imagens do videoclipe, com os atores Natalie Portman e Johnny Depp interpretando a canção em língua de sinais. Paul fez coração com a mão para Nancy, um momento fofura da noite!
No piano, Paul arrisca alguns improvisos para animar seu público, fato que não é comum em todas as apresentações, mostrando que simpatizou com a plateia catarinense. Ele segue no instrumento com mais algumas canções de seu trabalho solo e com o Wings. Em “Maybe I’m Amazed”, registros fotográficos de Paul aparecem no telão, entre eles com sua filha Mary ainda bebê, feitos por Linda, sua falecida esposa. Mesmo sem citá-las diretamente, podemos considerar esse momento como uma homenagem a ela e à família que construíram juntos.
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Uma versão bem country de “I’ve Just Seen Your Face” foi uma das canções mais queridas do show, que foi seguida da apresentação da primeira música que os Beatles gravaram (mais um momento que contou com o português a la McCartney, levando o povo à loucura!), “In Spite of All the Danger”, que foi introduzida por uma viagem no tempo, “em uma cidadezinha do interior da Inglaterra, Liverpool”. A partir dessa música, chegamos à parte mais intimista - e também emotiva - do show, que irá contar com muitas homenagens e um foco maior em Paul com violão e ukulele.
Há menções a George Martin e à icônica Abbey Road em “Love Me Do” - respectivamente, o primeiro produtor dos Beatles e o local onde eles gravaram a maior parte de seu repertório. Com seu ukulele, gaita, uma base de guitarra e o baterista Abel engajando uma dancinha simpática, Paul toca “Dance Tonight”.
Um dos momentos mais inesquecíveis da noite foi quando Paul foi elevado às alturas pela estrutura móvel do palco e, sozinho em meio a projeções de árvores, pássaros e estrelas, tocou um dos singles mais icônicos do álbum branco dos Beatles, “Blackbird”.
E ali Paul seguiu, apenas ele e seu violão, para a homenagem a John Lennon, e quase não consegue cantar, embargando a voz em alguns momentos. Estamos falando de “Here Today”, canção que dedicou ao seu “querido irmão”, como ele mesmo chama. As estrelas projetadas no telão dão a impressão de que Paul está no céu, procurando por John. Nesse momento, um fato curioso: pôde-se ouvir um drone passando por cima do palco, adicionando um efeito especial à canção. No fim, Paul faz o símbolo da paz, em referência ao amigo pacifista.
Em seguida, a mais aguardada da noite por muitos fãs, foi a música mais nova dos Beatles, “Now and Then”, lançada em 2023 e que provocou muita emoção pela possibilidade de ver os quatro Beatles juntos novamente, graças a um vídeo desenvolvido com inteligência artificial. Paul volta para o piano e o mosaico de imagens mais bonito da noite surge no telão, com diversos momentos da trajetória da banda, dando ênfase para os falecidos George e Paul. A música, composta por John Lennon, coincidentemente parece uma resposta a “Here Today” - ainda que John nunca tenha, de fato, escutado a dedicatória de Paul para ele. Momento de extrema emoção para todos. O público fez uma homenagem com balões brancos, deixando Paul visivelmente emocionado e agradecido.
O clima da noite volta a ficar alegre e são entoados alguns clássicos, como “New”, dos trabalhos mais recentes de Paul e “Lady Madonna”, que teve homenagens a mulheres no telão. Em “Something”, Paul volta a ficar nostálgico e dramático: dedica-a como tributo a quem a compôs, “seu amigo George”. Paul entoa um “viva ao George!” e arrasa numa versão que inicia apenas com o ukulele, até chegar nos outros instrumentos e no clássico solo de guitarra. Ouve-se o coro da plateia em mais um momento de intensa emoção, enquanto imagens de George aparecem no telão. Ao final, a plateia canta “olê-olê-olê-olêêê, George, Georgeee!”, momento no qual Paul, mais uma vez, acompanha de forma improvisada com a guitarra.
Em seguida, com uma música que não conseguiu deixar ninguém parado, a icônica “Ob-La-Di, Ob-La-Da” afirma-se como um dos momentos que deixou a plateia mais agitada. Paul pediu para o público cantar “bem alto, forte e com orgulho!”, como se soubesse que essa é uma das favoritas do público brasileiro. Nessa apresentação, mal se ouve Paul no refrão e o público tem seu momento de destaque.
“Band On the Run”, clássica do Wings, teve uma execução perfeita e animou muito o público. Desse momento em diante, é pedrada atrás de pedrada: são tocados grandes clássicos dos Beatles, como “Get Back”, com imagens do filme de mesmo nome que mostram momentos da gravação do último álbum da banda. Chegando em “Let it Be”, uma das mais aguardadas pelos fãs, o show começa a se encaminhar para o final. Paul toca a canção “da vida” de muitos no piano, arranca lágrimas e se prepara para os momentos finais (e ainda com muita energia!)
Em seguida, temos o show de pirotecnia que, graças à estrutura aberta do Ressacada, pode-se ter a completude dos fogos de artifício em “Live and Let Die”. O povo das cadeiras e arquibancadas teve seu momento de visão privilegiada, e o pessoal da pista sentiu o calor do fogo. Mais uma canção em que se pode ouvir com empolgação a voz e gritos do público. Um show visual e sensorial que é um excelente prelúdio para o que vem a seguir.
“Hey Jude” fecha com chave de ouro o show antes do bis. Como de costume, Paul invoca um coro de “na-na-na-nanana”, com as luzes da plateia iluminando-a e a câmera mostrando alguns focos do público no telão. Para o coro, Paul chama primeiro os “homens”, depois as “queridas” e por fim, “por toda a raça”! A homenagem ao primogênito de Lennon consagra-se como o momento mais emblemático da noite: a plateia presenciou sua própria emoção no palco, no telão. É indescritível a emoção desse momento!
Crédito: Marcos Hermes
Paul e sua banda deixam o palco e retornam com as bandeiras do Brasil, da Grã-Bretanha e do movimento LGBTQ+, antes de engatar no encore animado. Para o encerramento, “I’ve Got a Feeling” com imagens da última apresentação dos Beatles, no terraço do Abbey Road Studios, é um momento de duo de Paul e John, que cantam “olhando” um para o outro (com John projetado no telão). “Birthday” instaura os momentos finais agitados, e em seguida, a curta “Sgt. Peppers” na versão reprise, proporciona um dos momentos de maior qualidade instrumental, seguida de “Helter Skelter” que levou o público a euforia com seu rock ‘n roll pesado.
“É hora de vazar!”, Paul anuncia. Ele agradece a banda e os profissionais da técnica e encerra com a tríade “Golden Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End” no piano, um final digno de uma performance épica. Deixando o público sem fôlego e com aquele gostinho de quero mais, aliviando o coração de todos com um esperançoso “até a próxima!”.
Paul seguiu para sua próxima parada, a Argentina, onde dará continuidade para a Got Back Tour na América do Sul. Por aqui, ficamos com as memórias da melhor passagem de Paul por terras brasileiras até agora, e a expectativa de um retorno breve, como tem sido nos últimos anos
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