Apresentação aconteceu no último domingo (12) na capital paulista
Foto: Allan de Menezes
Após um longo tempo de estadia pelas terras tupiniquins, depois de passar por algumas das capitais do Brasil como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte, era a vez de São Paulo receber a apresentação apoteótica de despedida Roger Waters e Cia.
Sempre que Roger Waters vem ao Brasil, você sabe que vai acontecer um espetáculo cinematográfico e você também sabe que as coisas ficarão políticas, e desta vez, antes de iniciar o último show que encerra a passagem da turnê “This is Not a Drill” por aqui, assim como foi em outros shows, o recado bem explícito no telão foi mostrado como de costume, “Se você é uma daquelas pessoas que diz: ‘Eu amo o Pink Floyd, mas não concordo com a política do Roger’, você pode vazar para o bar. Obrigado.
Apesar de tudo apontar que essa seja última vez de Roger por aqui, devido ao longo tempo de intervalo entre as vindas por aqui e o fator idade, já que o músico se encontra no auge de seus 80 anos. A apresentação não tinha esse tom de despedida, pois é nítido ver o vigor de um músico da qualidade de Roger fazendo o que ama por quase 2 horas de show, com muita maestria, pirotecnia, jogos de luzes, tocando diversos clássicos, lotando estádios Brasil afora, como pode isso ser uma despedida ?
Em um domingo de clima quente na capital paulista, a temperatura subiu mais ainda quando após os recados tanto políticos. O pontapé inicial, se dá ao Roger subindo no palco em uma cadeira de rodas, e começa o show com a extravagante e diferente versão regravada de Lockdown Sessions de Waters de “Comfortably Numb”, com um visual pós-apocalíptico e grandes trovões, algumas pessoas chegaram a sentir falta do solo que possuía na música.
Com um setlist bem diversificado entre músicas clássicas do Floyd, algumas não tão conhecidas e músicas de álbuns solos de Roger, há o suficiente para desfrutar, é claro, e você será presenteado com hits mais do que suficientes, como foi o caso da sequência inicial do show, após a tenebrosa versão, eis que surge “The Happiest Days of Our Lives” e “Another Brick in the Wall, Part 2 e 3”, músicas que faz o público cantar e dançar sem parar.
Existem outras músicas que não funcionam tão bem, e a maioria delas está fora da coleção solo ou de material novo de Waters. Músicas como o novo “The Bar” ou a versão bastante mansa de “The Bravery of Being Out of Range” tiram severamente o ímpeto do show, no entanto, momento propícios para se ressaltar as questões políticas no mundo em “The Powers That Be”, em que até questões brasileiras são lembradas como o caso de Marielle Franco e após o momento de baixa do show, clássicos mais do que suficientes como, a sempre excelente “Have a Cigar”, e fechando a primeira parte do show, a dupla de luxo do disco “Wish You Were Here”, sendo a música tema do disco e “Shine On You Crazy Diamond (Parts VI-IX)”, músicas que fazem claras homenagens a Syd Barrett, ex membro do Pink Floyd e amigo de infância de Roger, que se afastou da banda nos anos 70 por uso exagerado de Psicoativos. Pra fechar a primeira etapa do show, Sheep (com uma ovelha voadora obrigatória pairando no alto).
Na volta do intervalo, quem estava no bar, teve que voltar correndo pro lugar pra não perder a icônica “In The Flesh” com suas imagens fascistóides e critica ao racismo, o anti-semitismo e a homofobia e “Run like Hell”, em turnês estrangeiras haveria de ter Waters como um falso nazista em um sobretudo de couro, como personagem projetado para inspirar hostilidade, no entanto na turnê por aqui não aconteceu ele com as vestimentas devido a fortes críticas que recebeu.
Agora por vir, um dos momentos mais lindos de toda apresentação, vem a sequência de hits do “The Dark Side Of The Moon” um dos discos mais vendidos de todos os tempos. “Money” anuncia a chegada de sons mais animados, com destaque para o saxofonista Seamus Blake. Ele não é o único a brilhar. Os guitarristas Dave Kilminster e Jonathan Wilson são impressionantes enquanto alternam os solos e ainda tem Wilson na voz.
Us And Them, sempre comovente, é lindamente aprimorado por recursos visuais. Uma extensa coda instrumental traz uma colagem comovente de imagens amplas e instigantes. Há vídeos de muros de Trump e israelenses, manifestantes do Black Lives Matter justapostos a imagens de brutalidade policial e cenas de pobreza no terceiro mundo ao lado de manifestantes anti-imigração. Os momentos finais trazem uma noção de união com cenas unificadoras de rostos sorridentes dançando independentemente da geografia ou cultura, era visível toda emoção no rosto das pessoas, sem palavras para descrever.
A medida que “Brain Damage” e “Eclipse” encerram a sequência de Dark Side, somos presenteados com uma colagem cada vez maior. Rostos dos que partiram; executados ou assassinados pelas mãos de regimes autoritários em todo o mundo. Através do crescente mar de rostos corta-se uma versão C21 do famoso prisma Dark Side. Com a letra adaptada, “O lunático está na grama” soando na minha cabeça enquanto assisto, não consigo deixar de me perguntar quem é. Certamente há muitos candidatos.
Pra encerrar essa noite que vai ficar marcada por muito tempo na memória dos fãs que estiveram presentes, da história da música, daquilo que pode ter sido a última apresentação de Roger no País, fica aquele gostinho de quero mais, aquele sentimento esperançoso de que será se ainda ele volta ? e com isso, antes de se despedir, encerrou a apresentação com “Two Suns In The Sunset”, “Outside the Wall” e por mais importante, ao sair do palco apresentou o grupo de músicos que está na estrada com ele já há algum tempo, como que são as cantoras de apoio Shanay Johnson e Amanda Belair, os guitarristas Dave Kilminster e Gus Seyffret, o tecladista/guitarrista Jon Carin, o organista Robert Walter, o baterista Joey Waronker e o saxofonista Seamus Blake.
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