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Se a DreamWorks e a Pixar têm algo em comum, definitivamente é a proatividade de ambas ao variar entre suas franquias de sucesso e projetos novos ano após ano. Por mais que marcas como Como Treinar o Seu Dragão ou Toy Story representem sucesso garantido, ainda dá para correr alguns riscos com projetos isolados como Luca ou Os Caras Malvados, por exemplo. Porém, nem tudo são flores porque outro elemento comum entre os dois estúdios de animação é que, por mais que tais projetos novos surjam, eles parecem cada vez mais se adequar a uma fórmula de sucesso, fenômeno bem semelhante ao que vemos com os filmes de super-heróis, seja da Marvel seja da DC.
E Ruby Marinho: Monstro Adolescente, a mais nova produção da DreamWorks, segue à risca essa formulazinha do peixe fora d’água – literalmente – que redescobre seu propósito no mundo ao explorar novos ambientes e conhecer novos personagens. Não deixa de ser uma reimaginação da Jornada do Herói, um arquétipo, então não há problema inerente aí. Porém, a partir do momento que as piadas passam a ficar previsíveis e até sem graça por causa de experiências anteriores melhores, isso começa a virar um estorvo e o filme passa a ficar entediante.
Mas Ruby Marinho por pouco escapa desse tédio por alguns motivos que o fazem se destacar, e o maior deles é como o diretor Kirk DeMicco (colaborador habitual do estúdio depois de Os Croods) apresenta o mundo em volta da protagonista Ruby. Toda a cidadezinha litorânea parece ter vindo de uma versão fabulesca do estado do Maine, o que é ainda reforçado pela boa piada envolvendo o preconceito dos cidadãos pelos canadenses.
Os penteados de cada personagem, seus modos de falar (assisti à versão dublada, mas não tenho dúvidas que o áudio original também tenha esses detalhes), o formato e a disposição das casas e prédios... Tudo compõe uma cidade muito viva que pulsa durante todo o longa. E por mais que o filme não explore tanto quanto poderia o fundo do mar e a antiga rivalidade que move aquelas águas, compensa essa falta de informações pelas cores saturadíssimas – e destaco especialmente a caracterização bela e macabra da ameaça central no terceiro ato que, como se não bastasse, envolve uma sátira simples porém sagaz a uma clássica história da Disney em perfeito timing.
Apontados esses pontos positivos, ainda há elemetos que me incomodaram na animação, já que a mesma criatividade visual esbanjada aqui não se mostra tão presente na trama ou no próprio desenvolvimento narrativo. Um bom exemplo é um certo suspense que o filme cria em relação a um personagem que se faz óbvio desde seu surgimento em tela. Outro exemplo são as tentativas artificiais de modernizar os personagens como representantes da chamada Geração Z, o que é pertinente em teoria mas não funciona justamente porque soa como uma visão caricata tida pelos realizadores mais velhos do projeto.
Ainda assim, Ruby Marinho é uma aventurinha coming-of-age simpática, descompromissada e esteticamente bela que, por mais que não surpreenda e siga uma fórmula cansada, jamais demonstra grandes pretensões para tal. É um filme família confortável e isso não é necessariamente ruim.
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