Dramas de sobrevivência não são novidade no Cinema, especialmente depois do sucesso de 127 Horas de Danny Boyle. Recentemente, tivemos mais um exemplo de sucesso surpreendente com o acrofóbico A Queda de Scott Mann, lançado no ano passado, ao qual não assisti mas definitivamente ficou um tempo no boca-a-boca. Eis que surge Sem Ar, remake do sueco Além das Profundezas de 2020, que funciona quase como uma espécie de A Quedainvertido.
Focando em duas irmãs que decidem mergulhar em um local inóspito, o filme gira em torno dos esforços de uma delas ao tentar salvar a outra, enquanto esta lida com demônios de seu passado. E talvez seja aí que se encontre o problema do filme! A premissa em si é boa, mas a execução de Maximilian Erlenwein se contenta com o básico, sem muita criatividade na hora de construir todo o conflito intenso do filme. Basicamente, cada "gênero" explorado pelo longa recai em cima de uma atriz diferente. Toda a tensão, correria e desespero recai em cima de Sophie Lowe, que faz um ótimo trabalho com o pouco material que lhe é entregue – rendendo até momentos tragicômicos inesperados. Mas todo seu "núcleo" se baseia em uma repetitividade de momentos azarados que, se funcionam até certo ponto, perdem o gás lá pela metade do filme, soando artificialmente criados e sacrificando em parte a maior imersão das situações adversas.
Ainda assim, esse é o núcleo que melhor funciona, não apenas pela já citada atuação de Lowe, que está competente, mas também porque Erlenwein consegue, nesse caso, gerar um senso de vastidão inóspita com seus planos abertos e panorâmicas. Vez ou outra, certos artifícios dramáticos também são usados para potencializar a urgência, como o cronômetro que surge na tela em certo instante; infelizmente, não é tão consistente quanto poderia.
Por outro lado, o "núcleo" de Louisa Krause é desastroso, já que além da limitação física da personagem – que passa 90% do filme presa sob uma rocha e vestindo uma máscara de mergulho – também é relegada a dar sinal de vida aqui e ali enquanto relembra traumas do passado a partir de flashbacks também EXTREMAMENTE repetitivos sobre um trauma passado. Erlenwein tenta estabelecer um drama em relação ao suposto estado psicológico da personagem de Krause e suas impressões sobre a irmã, mas nunca consegue sair do mais básico.Tudo é muito desinteressado e pouco inventivo, como se fosse um drama construído por algoritmos a partir de diretrizes matemáticas.
E é justamente por isso que a conclusão do arco entre ambas as personagens, que deveria ser emocionante, acaba soando artificial e sem muito peso. Existe uma dificuldade de equilibrar o suspense de sobrevivência protagonizado por Lowe na superfície e o melodrama traumático protagonizado por Krause nas profundezas. No fim, é fácil perceber que o filme deveria ter focado em apenas um deles... e também não é difícil saber qual!
Com isso, o resultado final de Sem Ar é insosso. As duas boas atrizes e a belíssima paisagem vasta e vazia – vez ou outra auxiliadas pelos picos de criatividade da direção –acabam não sustentando um filme que se contenta com o básico para, como diz em seu marketing, ser mais intenso do que A Queda. Nunca é um bom sinal quando um filme precisa rebaixar outro para se vender, não é mesmo?!
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