Partindo de um tradicionalismo dentro do gênero, a estreia do diretor Samuel Bodin na grande tela, Ecos do Além, é um daqueles filmes que subvertem a própria narrativa, fazendo isso ao estabelecer de forma inicial elementos que em uma primeira vista podem parecer clichês aos olhos do espectador. O longa gira em torno de Peter (Woody Norman), um garoto recluso e tímido alvo de bullying entre seus colegas de escola que passa a interagir com uma voz surgida de sua parede, fato que seus pais Mark (Anthony Starr) e Carol (Lizzy Caplan) negam a veracidade. Até agora, toda essa sinopse inicial soa como uma típica história de terror sobrenatural, a casa assombrada, os pais céticos e a criança atormentada, uma mistura de ingredientes característicos do gênero que deveriam gerar aquele feijão com arroz de um clássico filme do gênero. Porém, Bodin escolhe por desconstruir toda essa visão costumeira que o início da narrativa busca empreender.
O diretor escolhe trabalhar com esse tradicionalismodefinindo-o com o ponto de partida da trama, procurando uma constante evolução narrativa entre os acontecimentos que se encadeiam em ótimas reviravoltas, como na fala do personagem de Anthony Starr, “As coisas podem não ser o que aparentam”. Essas artimanhas narrativas são somadas à sua cinematografia autoral, que vão desde influências do expressionismo alemão até linguagens hitchcockianas, peculiaridades essas que se refletem quando o diretor se utiliza de jogos de sombras para construir uma atmosfera melancólica e opressiva tanto da casa quanto dos pais do menino, vividos com maestria por Anthony e Lizzy. Além disso, os usos de planos que ao mesmo tempo abertos aos limites da casa, mas fechados em Peter criam aquele sentimento de claustrofobia emocional que recai sobre o menino, sentimento que se agrava quando a ameaça final é revelada, sendo pouca exposta de forma gráfica para a tela, o que só engrandece o terror de sua presença, pois quando sua face é finalmente é mostrada, é assustador.
Porém, apesar de ter uma condução envolvente e verdadeiramente amedrontadora, apesar de tudo estamos falando de uma criança em um ambiente hostil e deprimente, o longa parece se perder em seu arco final. No ponto do filme em que ele assume um certo caos narrativo muito bem empregado pela história, é onde ele peca ao não concluir história de uma forma satisfatória, nos deixando com um final em aberto sem muita justificativa, algo que procuro entender até o momento que escrevo esse texto. Não gosto de julgar inconveniências nas histórias, afinal cada uma delas possui sua própria realidade, mas me parece que o diretor por algum capricho pessoal optou por uma não conclusão, com o objetivo de torna-la mais perturbadora, o que acabou parecendo apenas um final acelerado e desleixado.
Todos esses arquétipos que já são, de certa forma, familiares para aqueles com uma maior proximidade com o terror, acabam por se tornar o principal detalhe que destaca Ecos do Além como uma ótima proposta para o gênero, se firmando como um dos melhores títulos do ano dentro da categoria.
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