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Desde que meu amor pelo Cinema começou, um dos nomes que mais me afastavam de certos filmes era o do diretor Michael Bay.
Responsável por obras relativamente influentes do cinema blockbuster, especialmente próximo à virada do milênio com seus A Rocha e Armageddon, sua estética caótica e ufanista nunca me agradou e o ápice chegou quando assumiu a franquia Transformers, inspirada pela linha de brinquedos da Hasbro. A partir de premissas extremamente ridículas (afinal estamos falando de robôs alienígenas que se disfarçam de veículos), os cinco filmes dirigidos por Bay de 2007 a 2017 foram progressivamente escorregando cada vez mais em uma pretensão megalomaníaca que nada tinha a ver com a simploriedade das tramas ou com a cafonice de sua ideia original. Porém, uma característica de Bay eu jamais poderei negar: sua mão autoral.
E é exatamente isso que falta ao mais novo Transformers: O Despertar das Feras, uma mão mais autoral para que o projeto precise decolar por conta própria, sem tentar emular práticas anteriores, seja da abordagem de Bay em sua pentalogia, seja aos moldes mais sensíveis de matinê que Travis Knight imprimiu em seu Bumblebee. A estratégia de Steven Caple Jr., ao meu ver, foi a de buscar conciliar os fãs dos dois lados, o que acabou deixando tudo com pouca personalidade e até esquecível de certa forma. Ao abordar a vida pessoal do protagonista na Nova York dos anos 90, sua relação com o irmão caçula e as dificuldades financeiras de sua família, o diretor até introduz bem o personagem de Anthony Ramos (sempre com seu carisma e leveza habituais) na mesma levada que Knight introduzia a personagem de Hailee Steinfeld no filme de 2018, com um bom uso do hip hop noventista para separar bem o protagonista das figuras anteriormente vividas por Shia LaBeouf e Mark Wahlberg na pentalogia de Bay, que geralmente eram acompanhados pelas composições grandiosas de Steve Jablonsky.
Porém, mesmo buscando de cara se afastar da marca relativamente negativa que o diretor anterior tinha deixado, Caple Jr. acaba de rendendo a convenções bem parecidas com aquelas de seu antecessor nas cenas de ação, só que sem o mesmo senso de caos controlado. Há sim certa elegância em alguns planos no meio do pandemônio, herdados provavelmente da experiência que o realizador adquiriu com Creed 2, mas ainda assim a ação parece mal-aproveitada, especialmente quando os Maximals são levados em consideração. Esses novos robôs, que simulam animais ao invés de veículos, foram parte essencial do marketing desse novo filme, mas acabam não tomando muito espaço para a exploração de dinâmicas diferentes da luta, o que é uma pena. Em compensação, há uma ideia relacionada ao protagonista e à cena pós-créditos que eu admito ter gostado, mas que deve ser melhor desenvolvida em um próximo exemplar da franquia. E por mais que a co-protagonista vivida por Dominique Fishback fuja da hiperssexualização que as personagens de Megan Fox, Rosie Huntington-Whiteley e Laura Haddock recebiam na pentalogia original, também não tem muito o que fazer além de encarnar em um arquétipo meio bobo do gênero.
Transformers: O Despertar das Feras demonstra potencial para essa nova franquia protagonizada pelos robôs automobilísticos da Hasbro, mas é um forte sinal de que esse reboot ainda precisa encontrar uma voz própria para se sustentar sozinho e atrair mais o público para lotar as salas de cinema.
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