As Obras literárias do escritor de contos de suspense policial Rafael Montes vem fazendo um grande sucesso comercial na última década, em sua maior parte retratando a elite brasileira em cenários bárbaros, não sendo diferente em seu último trabalho, adaptado para o cinema pelo já experiente diretor José Eduardo Belmonte. Uma Família Feliz desenha, ou pelo menos tenta, um retrato que busca apontar as relações sutilmente tóxicas que fazem parte do cotidiano da suposta família de bem imposta pelos conservadores.
Eva (Grazzi Massafera) e Vicente (Reynaldo Gianecchini) vivem uma vida aparentemente perfeita, com um filho recém nascido, as duas filhas do marido de seu antigo casamento amam sua madrasta e moram em um grande condomínio de luxo, até que certos acontecimentos estranhos deixam não só a vida do casal em perigo, mas também sua imagem alheia como uma família decente. Essa premissa vai se unindo a uma narrativa que enfatiza seu suspense em meio a esses eventos, que não apenas se adaptam a certos elementos que são normalmente relacionados ao gênero, mas também pequenos traumas que atingem justamente essa imagem decente construída para os olhares de fora, que quando cai perante aquela comunidade burguesa, revela sua verdadeira face como uma sociedade animalesca.
Apesar desses detalhes concederem uma certa profundidade a sua história, refletindo certos aspectos sociais que assolam o Brasil nos últimos anos, toda essa suposta crítica para a classe burguesa se perde em meio ao suspense imposto à narrativa. Toda essa imagem de uma família perfeita é destruída por conta de relações que aparentemente soam doentias e abusivas, como quando Vicente se impõe como um verdadeiro vilão escondendo sua verdadeira face, mesmo que essa premissa do marido doentio escondido nunca se realize, ou até mesmo outros detalhes que nunca ganham esse destaque para fortalecer essa tragédia burguesa. Isso tudo para gerar um plot twist que nada acrescenta ao filme, além de uma reviravolta que busca apenas surpreender o público.
No fim, Uma Família Feliz peca em justificar sua premissa, mesmo com certos detalhes que apontam a visão crítica de seu autor, me parece que essa história acaba por se perder em sua própria identidade, apesar de construir um bom suspense, todo esse mecanismo narrativo não chega a lugar nenhum, além de um choque barato.
Comments